Mindfulness na parentalidade: nossos filhos nos mostram o caminho de volta

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Você provavelmente já ouviu falar em mindfulness — ou atenção plena — a capacidade de estar verdadeiramente presente, aqui e agora. O que talvez nem todo mundo saiba é que essa prática, quando aplicada à parentalidade, tem um nome: parentalidade consciente (mindful parenting).

Na prática, isso significa estar com o seu filho de forma mais aberta, curiosa, presente e amorosa. Sem distrações ou com a mente vagando em outro lugar. Parece simples. Mas é mais fácil falar do que fazer.

Há aqui uma questão importantíssima, pra qual nem sempre nos atentamos:

as crianças já nascem com essa habilidade.

Observe uma criança em sua rotina: ela geralmente está inteira onde está. Se está pintando, ela está pintando. Se está observando uma formiga, é como se o mundo inteiro se resumisse ao que está acontecendo ali. Mesmo quando está no “mundo da lua”, também está inteira nele — com o corpo e a alma.

Com o tempo, porém, vamos perdendo essa capacidade natural. A vida adulta nos empurra para um estado de atenção difusa constante, como se tivéssemos que estar sempre em alerta. Evolutivamente, talvez isso tenha sido útil — com um leão à espreita, não seria legal  estar imerso, curtindo um post. Mas no mundo moderno, esse modo de operar nos sobrecarrega, nos desconecta e, pouco a pouco, nos rouba a presença e a prioridade.

É aí que nossos filhos nos mostram o caminho de volta. Eles nos lembram que é possível viver o momento com inteireza. A parentalidade, então, nos convida para um espécie de retorno ao que realmente importa, ao que somos e, às vezes, ao que esquecemos.

Vejo três grandes obstáculos nesse caminho:

1. Não saber o que realmente é prioridade.

2. Ter uma agenda que não reflete essas prioridades.

3. Permitir que uma tarefa invada o espaço da outra.

Recentemente, fiz um exercício simples: listei minhas prioridades de vida. Coloquei a espiritualidade como um dos tópicos mais importantes. Quando fui analisar minha agenda semanal, eu não estava dedicando praticamente nenhum momento a esta tarefa. Suas prioridades são o que você faz.

Por fim, há o que chamo de a membrana dos blocos de tempo. É comum, acredito, de forma geral, que deixemos que o tempo destinado a uma tarefa seja invadido por outras demandas.

O mundo moderno está sempre clamando por nossa atenção.

Como pediatra, isso me impacta diretamente. Se, por exemplo, durante um momento com meu filho, eu escutava uma notificação de mensagem, isso me deixava apreensivo. Alguém poderia estar precisando da minha orientação. Se eu via uma pré-visualização de mensagem de alguma família que acompanho que parecia urgente, mesmo se me propusesse a não responder por estar em um momento com meu filho, minha mente já se deslocava. E aí, eu já não estava mais ali, com a mesma disponibilidade que antes.

Por isso, tomei uma medida simples, difícil, mas importante: desliguei todas as notificações. Hoje, só recebo alertas de compromissos e combino com as famílias que acompanho para me ligarem se algo for urgente. Assim, garanto que estarei à disposição para elas em um momento necessário, mas, ao mesmo tempo, preservo blocos de tempo para estar onde me comprometi a estar — inclusive com meu filho ou mesmo com as famílias, nos momentos que reservo para responder às mensagens do WhatsApp.

Mindfulness não é viver em um estado zen ininterrupto. É uma escolha cotidiana, humilde e gradual. E acredite: ver nossos filhos como mestres da presença pode nos ensinar mais do que muito conteúdo.

No fim, talvez seja isso: filhos nos resgatam para valores fundamentais que a complexidade da vida adulta nos faz colocar, às vezes, em segundo plano se não estivermos atentos.

Aprendo com o meu todos os dias.

Referências Bibliográficas:

1. HEADSPACE. What is mindful parenting? Disponível em: https://www.headspace.com/mindfulness/mindful-parenting. Acesso em: 30 out. 2025.